Muitas crenças sobre obesidade persistem na ausência de evidência científica a favor (pressupostos), algumas persistem contradizendo as evidência (mitos). A promulgação de crenças não suportadas podem resultar em decisões políticas mal informadas, imprecisas recomendações clínicas e de saúde pública.
Usando pesquisas na Internet da mídia popular e na literatura científica, foram identificados, revisados e classificados, mitos e presunções relacionados à obesidade . Também foram examinados os fatos que são bem suportados por evidências, com ênfase naquelas que têm implicações práticas para a saúde pública, política ou recomendações clínicas.
I- MITOS:
1. Pequenas mudanças sustentadas no consumo de energia ou no seu gasto irão produzir grandes mudanças de peso, mas a longo prazo.
- Diretrizes nacionais de saúde e sites respeitáveis anunciam que grandes alterações no peso acumulam indefinidamente após pequenas modificações de estilo de vida sustentados diárias (por exemplo, caminhar por 20 minutos ou comer duas batatas fritas adicionais. Acreditar que uma pessoa que gaste 100 kcal andando 1,6km por dia vai perder mais de 22 kg durante um período de 5 anos é errado, na verdade a perda de peso será de cerca de 5 kg, assumindo que não há aumento compensatório na ingestão de calorias.
2. Definir metas realistas para a perda de peso é importante, porque, caso contrário, os pacientes tornam-se frustrados e perdem menos peso.
- Metas inatingíveis prejudica o desempenho e desencoraja o objetivo a ser alcançar no tratamento da obesidade, a incongruência entre a perda de peso desejado e a real pode minar a capacidade de percepção do paciente para atingir o objetivos, o que pode levar à interrupção de comportamentos necessários para perda de peso.
3. Grande perda de peso de forma rápida está associada com maiores dificuldades de continuar a perder peso a longo prazo, quando comparado com a perda de peso lenta e gradual.
- Na verdade, uma recomendação para perder peso mais devagar pode interferir no sucesso dos esforços para perda de peso.
4. É importante avaliar a motivação para mudança no estilo de vida ou dieta, a fim de ajudar os pacientes que solicitam tratamento para perda de peso.
- Prontidão ou motivação não preveem a magnitude da perda de peso ou a adesão ao tratamento, entre as pessoas que se matriculam em programas de mudanças comportamentais ou que se candidatam à cirurgia bariátrica. Alguns estudos demonstram inclusive que as pessoas que voluntariamente procuram programas para emagrecimento são, por definição, aquelas que menos estão prontas para se engajar nas mudanças comportamentais necessárias.
5. Aulas de educação física, em sua forma atual, desempenham um papel importante na redução ou prevenção da obesidade infantil.
- A educação física escolar, na maneira como é realizada hoje, não demonstrou diminuir o peso ou prevenir obesidade. A intensidade requerida talvez não seja suficiente.
7. A amamentação protege contra a obesidade. A crença de que crianças amamentadas têm menos chances de se tornarem obesos tem persistido por mais de um século e é apaixonadamente defendida.
6. A relação sexual queima 100-300 kcal.
- Na verdade, trata-se de cerca de 21 kcal em um homem na casa dos 30 anos.
II- PRESUNÇÕES:
1. Fazer regularmente o desjejum (café-da-manhã) é protetor contra a obesidade
- Dois estudos randomizados e controlados que compararam o resultado de comer no café-da-manhã ou evitar essa refeição não mostraram nenhum efeito sobre o peso da população estudada.
2. A primeira infância é o período em que aprendemos exercício e hábitos alimentares que influenciam o nosso peso durante toda a vida.
- Não há estudos randomizados ou ensaios clínicos controlados que evidenciem esta afirmação.
3. Comer mais frutas e vegetais irá resultar em perda de peso ou menor ganho de peso menor, independentemente de quaisquer outras alterações no seu comportamento.
- Quando nenhuma outra alteração comportamental acompanha o aumento do consumo de frutas e vegetais, a perda de peso pode não ser eficaz.
4. Efeito “sanfona” (alterações cíclicas no peso) está associado com aumento da mortalidade.
- Embora estudos observacionais apontem nessa direção, tais achados podem ser relacionados a fatores confundidores.
5. Comer lanches industrializados ou snacks contribui para o ganho de peso e obesidade.
- Estudos randomizados e controlados não evidenciam esta presunção. Mesmo estudos observacionais não tem mostrado associação clara entre lanches e obesidade.
III- FATOS sobre obesidade:
1. Herança genética não é destino; mudanças ambientais moderadas podem promover perda de peso tanto quanto os agentes farmacêuticos mais eficazes disponíveis.
2. Dietas reduzem o peso de forma muito eficaz, mas apenas tentar fazer uma dieta ou recomendar que alguém apenas faça uma dieta geralmente não funciona bem a longo prazo.
3. Independentemente do peso absoluto ou da perda de peso atingida, a prática de atividade física regular melhora a saúde, e a atividade física ou exercício em doses suficientes ajudam na manutenção a longo prazo do peso corporal.
4. Manter as circunstâncias que promoveram a perda de peso ajuda a mantê-lo. Obesidade é uma doença crônica que exige contínua manutenção.
5. Para as crianças com excesso de peso, os programas que envolvem os pais e o ambiente doméstico promovem maior perda de peso do que apenas iniciativas na escola ou fora de casa.
6. Fornecimento de refeições e uso de produtos de substituição de refeições promover a perda de peso maior.
7. Alguns agentes farmacêuticos podem ajudar os pacientes a alcançar a perda de peso clinicamente significativa e manter a redução, desde que os agentes continuem a ser utilizados.
8. Em pacientes apropriados, a cirurgia bariátrica em longo prazo pode promover perda de peso e redução da taxa de incidência de diabetes e mortalidade.