terça-feira, 20 de dezembro de 2011

POR QUE AINDA ESTAMOS USANDO HIDROCLOROTIAZIDA ?

A Hidroclorotiazida (HCTZ)  está disponível para o tratamento de hipertensão há mais de 50 anos, é a droga anti-hipertensivasa mais prescrita em todo o mundo. Em 2007, mais de 130 milhões de prescrições, sozinhas ou em combinações, foram feitas nos Estados Unidos. Desde o seu início a partir de 1976, os  JNC têm recomendado os diuréticos tiazídicos  como terapia de primeira linha ou preferenciais para a hipertensão. O uso de diuréticos tiazídicos foram estimulados de forma agressiva, pelo National Heart Lung and Blood Institute (NHLBI) e JNC 7, com base principalmente no estudo ALLHAT . Apesar desta defesa agressiva, existem poucas evidências para a sua recomendação como terapia de primeira linha, tendo em vista que o diurético mostrado ser equipotente com amlodipina e lisinopril na prevenção de doenças cardiovascular (DCV) no ALLHAT, não ter sido a HCTZ mas a clortalidona, que não é um tiazídico. A Clortalidona, não HCTZ, foi o diurético que demonstrou ser tão bom como amlodipina e lisinopril no ALLHAT. Como foi dito, clortalidona não é um diurético tiazídico, assim a referência ao ALLHAT no endosso entusiástico de diuréticos tiazídicos para o tratamento da hipertensão é equivocada. Existem grandes diferenças entre HCTZ, e clortalidona. Primeiro, a  clortalidona não tem o dióxido de benzothiadiazine base que define um tiazídico.  Além disso, existem significativas diferenças farmacocinéticas e farmacodinâmicas. A  HCTZ tem uma meia vida  plasmática em de dose única de 6-9 horas, a clortalidona tem uma meia-vida de 40 horas. Valores equivalentes de dosagens são, HCTZ de 8-15 horas e clortalidona de 45-60 horas. Portanto, não é surpresa que, com 24 horas de MAPA, a PA noturna seja menor com a clortalidona do que com HCTZ. Existem também diferenças significativas na farmacodinâmica entre clortalidona e hidroclorotiazida. Clortalidona é de 1,5 a 2,0 vezes mais potente que a HCTZ na redução PA.  Clortalidona também é comparada favoravelmente com bendroflumetiazida, um diurético tiazídico amplamente utilizado no Reino Unido, na capacidade de diminuir a agregação plaquetária e aumentar a formação de novos vasos (angiogênese), bem como afetar fatores célulares que influenciam o desenvolvimento de DCV. Há também a possibilidade de que a clortalidona, como acetazolamida, um inibidor da anidrase carbônica, poder aumentar a produção de óxido nítrico, um vasodilatador e protetor vascular. Esses efeitos nunca foram relatados para os diuréticos tiazídicos. A monoterapia com hidroclorotiazida em baixas doses usadas hoje, nunca demostrou redução da morbidade ou mortalidade CV. É bem aceito que uma dose baixa a média de um diurético como hidroclorotiazida (12,5-25 mg / d) é eficaz na redução da pressão arterial (PA), com menos efeitos metabólicos em comparação com as doses de 50 a 100mg usadas no passado. Nessas doses mais elevadas, houve um índice considerável de graves efeitos metabólicos adversos, tais como potássio sérico baixo, baixo sódio sérico e elevação de ácido úrico, colesterol e glicose.
 Em uma meta-análise de 22 ensaios clínicos com 141.153 participantes que não tinham diabetes na randomização, Elliott e Meyer (2007)  relataram que houve um risco 30% maior com diuréticos em comparação com placebo (odds ratio, 1,30; 95% intervalo de confiança [IC], 1,07-1,58, P =. 009) de desenvolvimento de diabetes, numa duração de poucos anos de cada um desses ensaios. Outra meta-análise, por Messerli e colegas em 2008, relatou o mesmo resultado:  Na análise de seis ensaios num total de 30.842 pacientes com hipertensão, o uso de diuréticos resultou em um risco 32% maior de desenvolvimento de diabetes em comparação com placebo. A conclusão é que os diuréticos tiazídicos diminui a tolerância à glicose e aumenta a incidência de diabetes, aumentando o risco de eventos CV.
Uma análise de coorte retrospectivo dos dados MRFIT comparando clortalidona com HCTZ, conduzido por Dorsch e cols, mostraram que pacientes tratados com clortalidona (mais de 2300 pacientes) tiveram um risco 21% menor de eventos CV do que aqueles com HCTZ (mais de 4000 pacientes). A razão de risco ajustada foi de 0,79 (CI, 0,68-0,92; P =. 006). Clortalidona também reduziu significativamente a média de PA sistólica, e interferiu menos no colesterol total e LDL colesterol do que a HCTZ.  No grupo da clortalidona teve menor nível de potássio e maior do ácido úrico. Em um editorial de Flack e cols declarou: "... a análise de coorte retrospectivo observacional da Multiple Risk Factor Intervention Trial por Dorsch e cols, acrescenta ao crescente corpo de evidências  a superioridade da clortalidona sobre HCTZ como o diurético preferencial no tratamento da hipertensão". Isto não quer dizer que a clortalidona não afeta o controle glicêmico ou diminui os níveis séricos de potássio, como os diuréticos tiazídicos. Os dados de ensaios clínicos, particularmente do ALLHAT, que embasam o uso de clortalidona como o diurético de escolha são convincentes. Os médicos podem prescrever  outros medicamentos como de primeira linha em pacientes com hipertensão. No entanto, se um diurético for escolhido, as melhores evidências disponíveis, a partir de ALLHAT, favorece a clortalidona na maioria dos pacientes com hipertensão não complicada. Além disso, clortalidona é uma escolha razoável para uso em combinação com outros agentes na maioria dos pacientes que necessitam de mais de um agente anti-hipertensivo.
O JNC 7 serviu a um propósito muito útil na coleta e normatização das melhores práticas para a hipertensão, mas uma coisa espetacularmente errada, foi o zelo desenfreado de "diuréticos tiazídicos" baseado no ALLHAT, quando o diurético usado no ALLHAT  foi de outro tipo. Desde então, tornou-se o HCTZ  um hábito, e hábitos velhos morrem duramente. Aristóteles explica melhor: "Todas as ações humanas têm uma ou mais destas sete causas:. Chance, natureza, compulsão, hábito, razão, paixão e desejo" Vamos ter menos hábito e mais razão.

sábado, 17 de dezembro de 2011

COMPÊNDIO DE TERAPIA ANTI-HIPERTENSIVA - JCH/ASH.

Excelente compêndio (click) sobre terapia anti-hipertensiva,  publicado no The Journal of Clinical Hypertension da American Sociaty Hypertension, em setembro de 2011.


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

RELAÇÃO ENTRE DISFUNÇÃO ERÉTIL E HIPERTENSÃO.

A hipertensão arterial sistêmica ( HAS ) é uma das principais causas de disfunção erétil ( DE ) (click), assim como a diabetes, tabagismo, dislipidemia, que quando associados aumentam a incidência da mesma. Aproximadamente 60% dos hipertensos apresentam disfunção erétil, e a maioria dos portadores de DE tem HAS. Tradicionalmente os pacientes costumam associar a DE com o uso de hipotensores. É sabido que alguns hipotensores, pricipamente os mais antigos, com os diuréticos tiazídicos tipo hidroclorotiazida e clortalidona, alfa bloqueadores, como a metildopa, betabloqueadores como propranolol, atenolol, são capazes de causar DE. Os mais novos como os IECA (click), BRA (click) e o BB produtor de óxido nítrico  não causam disfunção ou causam muito pouco, tendo vários trabalhos mostrando que o valsartan (click), losartan (click) e o nebivolol (click) não os causam, inclusive apresentado melhora. Em relação aos "estimulantes sexuais" como os inibidores da fosfodieterase 5, cujo representante mais conhecido é a sidenafila, não interferem na pressão arterial, podendo até reduzi-la, por sua ação vasodilatadora. Em relação a sua interação com os anti-hipertensivos recomenda-se um cuidado com os alfabloqueadores que quando associados podem causar hipotensão importante. A contra-indicação mais grave é com os nitratos que devem ser suspensos 24 horas antes do seu uso, sob o risco de causar choque refratário e óbito.
Publicação: JCH - ASH, Medscape, NCBI, PubMed, Mayo Clinic(click)

sábado, 10 de dezembro de 2011

ESTUDO QUE MOSTROU REDUÇÃO IMPORTANTE DE AVCI COM USO DO PERINDOPRIL E INDAPAMIDA.

O Estudo PROGRESS (click), Perindopril pROtection aGainst REcurrent Stroke Study, foi um estudo randomizado, duplo-cego controlado com placebo, com  6.105 indivíduos com história de AVC a partir de 172 ambulatórios do hospital em dez países, idade média 64 anos, faixa 26-91 anos, desenhado para mostrar a redução da recorrência de AVCI com a redução da PA, com o uso do perindoplril, associação perindopril com indapamida contra  placebo ( outras classes de hipotensores ). O Estudo mostrou uma redução importante de AVCI e melhora cognitiva principalmente nos pacientes que usaram a associação, inclusive nos não hipertensos. Durante quatro anos, no grupo tratado houve uma redução média da PA de 9 mm Hg (sistólica) e 4 mm Hg (diastólica) em comparação com placebo. 10% dos pacientes sofreram AVC em comparação com 14% no grupo placebo (redução do risco relativo de 28%, p <0,0001). O risco do total dos principais eventos vasculares no grupo tratado foi de 15% em comparação com 20% no grupo placebo. O tratamento ativo também reduziu o risco de AVC em subgrupos de hipertensos e não hipertensos (p <0,01). Perindopril mais indapamida reduz a PAS em 12 mmHg e PAD de 5 mmHg, e o risco de AVC em 43%. Perindopril sozinho reduzida SBP em 5 mm Hg e PAD por 3 mm Hg, com redução de 5% do risco de AVCI, não significativa. Além disso, durante o seguimento médio de 3,9 anos, ocorreu declínio cognitivo em 9,1% dos 3.051 do grupo ativamente tratado e 11,0% dos 3.054 do placebo, uma redução de risco de 19% (P = 0,01). Resultados compostos de demência com AVC recorrente e declínio cognitivo com AVC recorrente foram reduzidas em 34% (P = 0,03) e 45% (P <0,001), respectivamente. Não houve nenhum efeito sobre a demência ou o declínio cognitivo na ausência de AVC recorrente.
Publicações: Pubmed, Circulation (click) 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

BENEFÍCIOS DOS BETABLOQUEADORES NO HIPERTENSO COM: DM, SM E RESISTÊNCIA A INSULINA.

Os betabloqueadores são uma das classes de anti-hipertensivos mais antigas. Nos últimos anos trabalhos feitos principalmente com betabloqueadores de primeira geração, como o propranolol e atenolol, vem mostrando os efeitos adversos em relação ao perfil metabólico, que  tem levado a um aumento da resistência a insulina, diabetes e AVC, assim como menor diminuição de eventos coronarianos, o que fez com que eles fossem considerados de 3ª escolha no tratamento da HAS. Esta "condenação" da classe é injusta, tendo em vista que os seus efeitos não são de classe. Temos betabloqueadores não seletivos (propranolol, nadolol), seletivos (atenolol, metoprolol) e entre os seletivos uns mais (bisoprolol, nebivolol) . Existem ainda os com ASI, atividade simpaticomimétrica intrínseca (pindolol), os vasodilatadores por bloqueio alfa (labetalol e carvedilol) e por produção de óxido nítrico (nebivolol). Os trabalhos com os betabloquadores de terceira geração que têm ação vasodilatadora, têm mostrado um perfil metabólico favorável, não interferindo ou até interferindo favoravelmente, além de ação anti-oxidante, tornando-os de escolha nos pacientes com este perfil. Apresento-lhes um interessante Review Paper (click) sobre os betabloqueadores  vasodilatadores, publicado no The Journal of Clinica Hypertension da American Society of Hypertension.
Publicações: NCBI, Medscape (click)

sábado, 3 de dezembro de 2011

ASSOCIAÇÃO ENTRE DISTÚRBIOS DO SONO, DURAÇÃO DO SONO , QUALIDADE DO SONO E HIPERTENSÃO

O sono é um fator que contribui para a saúde e a vitalidade ideal. Os estudos mostram uma prevalência de apnéia obstrutiva do sono em 38% a 56%  nos hipertensos e 71% a  82%  nos com hipertensão refratária. No entanto, até esta data, nenhum estudo nacional (USA) avaliou a relação simultânea entre os distúrbios, qualidade, e duração do sono com hipertensão. Usando dados do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) (2005 a 2008), com a hipertensão definida pelo uso atual de anti-hipertensivos ou PA maior ou igual a 140 x 90mmHg. Doenças auto-relatadas do sono, duração e qualidade, foram categorizados a partir de uma entrevista, com perguntas sobre hábitos dormir. A prevalência de hipertensão foi de 30,2%,  e 7,5%,  33,0% e 52,1% relataram ter distúrbios do sono, sono curto, e sono de má qualidade, respectivamente. Depois do ajuste para características demográficas e comorbidades, ter distúrbios do sono só, não foi significativamente associado à hipertensão (odds ratio [OR], 1,65; 95% intervalo de confiança [IC], 0,73) 3,77). No entanto, esta associação foi diferente em relação a duração e qualidade. Associações significativas foram observadas entre os adultos com simultâneos distúrbios do sono e sono curto (OR, 2,30; 95% CI, 1.49) 3.56) e com distúrbios do sono, o sono curto, e sono de má qualidade (OR, 1,84; 95% CI, 1,13) 2,98). Estes resultados indicam uma associação entre uma combinação de problemas do sono e e hipertensão, mas estudos prospectivos são necessários para compreender a complexa interação entre eles.
Cerca de 1 em 3 adultos nos Estados Unidos são hipertensos. Embora os principais fatores de risco para hipertensão, sejam história familiar, sedentarismo, má alimentação, tabagismo, sexo, raça e idade, têm sido amplamente estabelecida, que um pouco convencional fator de risco muitas vezes é esquecido, o sono. Um estudo de 2008 do Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), com base em auto-relatos, mostrou que 11% dos adultos nos Estados Unidos tem descanso insuficiente. Dada a sua importância, não foi surpreendente que os pesquisadores encontrassem uma associação entre a má qualidade de sono e negativos comportamentos de saúde. Vários estudos têm mostrado uma ligação entre sono curto e hipertensão nos adultos, com diferença por sexo (maior entre as mulheres) e idade (nenhuma associação entre os idosos com 58 - 98 anos). Além disso, associações similares com hipertensão têm sido documentados para os distúrbios sono (apnéia, insônia, síndrome das pernas inquietas) e para a qualidade do sono. Até o momento, os resultados dos estudos realizados foram um pouco limitados por causa de variações nas populações, desenhos dos mesmos, amostras pequenas, e um foco em grande parte numa anomalia do sono em um tempo e sua relação com hipertensão. 
Como hábitos do sono podem ser um marcador para o estado da saúde e qualidade de vida, estudos prospectivos são necessários para melhor compreender a complexa interação entre o sono e a hipertensão. Enquanto isto alguns estudos de intervenção para melhorar a duração e a qualidade do sono têm sido  eficazes na redução tanto das PAs diurnas como noturnas. (The Journal of Clinical Hypertension Vol 13 | No 10 | October 2011)
Publicação: JCH - ASH (click)